Wagner: A Track&Field Não É Alvo De Movimentos De Aquisição
Por Matheus Piovesana
São Paulo, 28/07/2021 | 19:08
Sem a possibilidade de faturar com corridas de rua durante a pandemia, a Track&Field colocou os clientes para se exercitarem de casa através de um aplicativo. Ao todo, 120 mil pessoas aderiram à ferramenta, e a varejista enxergou um novo canal de vendas. O TFSports agora vai ganhar um marketplace (shopping virtual) de produtos e serviços de bem-estar para conectar treinadores de diferentes esportes a pessoas interessadas em praticá-los.
Em troca do espaço, os profissionais indicarão produtos da T&F aos clientes, tornando-se revendedores da marca. A empresa não ganha comissões sobre as aulas. O faturamento virá da venda de produtos através do aplicativo – testes mostraram uma alta de 20% nas vendas de franqueados que aderiram ao projeto. Ainda assim, a varejista quer que os dois lados façam toda a operação sem sair do TFSports. Os treinadores, por exemplo, terão uma carteira digital com a marca da companhia para gerir os recursos provenientes das aulas.
A expectativa é chegar a 1 milhão de pessoas cadastradas na plataforma a médio prazo. Hoje, aproximadamente 400 profissionais ligados a modalidades esportivas já estão cadastrados, e a T&F quer transformá-los em uma espécie de versão das conhecidas revendedoras de marcas de cosméticos como Natura e Avon. Dessas empresas veio José Vicente Marino, novo presidente do conselho, que deve ajudar na nova empreitada.
A nova funcionalidade está em testes em quatro mercados, e é a grande aposta da T&F para crescer nos próximos anos. A empresa, criada em 1988 e que abriu capital na Bolsa no ano passado, enxerga no digital o futuro de seu negócio. E avisa: apesar de especulações recentes de que poderia ser vendida a rivais, como a SBF, da Centauro, uma venda do negócio não está nos planos.
“Do nosso lado, a Track&Field não é um alvo de aquisição”, disse ao Broadcast Fred Wagner, cofundador e atual CEO da empresa. “As pessoas podem mirar nela, mas não temos nenhuma intenção nesse momento de fazer um movimento neste sentido”, explicou.
O mercado especulou em junho que a empresa poderia ser vendida à SBF, depois que vários diretores e o então CEO deixaram a companhia. Wagner afirma que a troca no alto escalão foi fruto da mudança de foco da empresa, que após o IPO, quer ligar todos os cilindros no mundo digital.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Broadcast – Vocês estão trazendo José Vicente Marino (ex-CEO da Avon) para o conselho da empresa. O que ele vai trazer para o negócio?
Fred Wagner – Todas as empresas tiveram uma transformação na forma de vender e uma digitalização do relacionamento com o cliente durante a pandemia. Nós fizemos um movimento importante, e através da nossa capilaridade, aumentamos significativamente a quantidade das vendas que é iniciada digitalmente. Hoje, aproximadamente 40% das nossas vendas começam, de alguma forma, no digital. Tínhamos uma plataforma de eventos, que fazíamos presencialmente, e ao longo da pandemia, digitalizamos os nossos eventos, e 120 mil pessoas se cadastraram para fazer exercícios em casa. Essa plataforma agora se amplia, não só com o viés dos atletas, mas também dos treinadores, que começam a ter um papel central. Estamos avançando em venda direta, e o José Vicente vem desse universo. Ele vem da Natura, foi CEO e fez a virada da Avon, e vem para agregar a esse crescimento.
Broadcast – Vocês também buscam um novo diretor de operações. Quais competências procuram?
Wagner – Estamos olhando para inovação, formas de distribuir venda direta, mas muito importante é a capacidade produtiva. Já temos uma necessidade de crescimento da nossa capacidade, e com a abertura de um novo canal, pretendemos aumentar a quantidade de itens produzidos ao longo do ano. Estamos buscando um diretor de operações com um viés de indústria, de produção.
Broadcast – Muitas indústrias estão com dificuldades em suprimentos e custos. Como está sendo para vocês?
Wagner – Estamos administrando de uma forma relativamente saudável a nossa cadeia produtiva. Ao longo da pandemia, vários processos e insumos tiveram interrupções, mas conseguimos manter um nível de ruptura (falta de produtos) baixo, e mesmo com o fechamento das lojas, não tivemos muita sobra de produtos. Existe uma pressão de aumento de preços, um pouco pelo descolamento do câmbio, um pouco por esse desbalanceamento das cadeias, mas temos relacionamentos de longo prazo com fiações, tecelagens e confecções.
Broadcast – Na venda direta, o TFSports terá uma importância grande. Ele será uma ferramenta de atração de clientes?
Wagner – A plataforma vai ser um destino para qualquer pessoa que queira conhecer uma nova modalidade esportiva ou participar dos eventos que realizamos. Esperamos que as corridas presenciais voltem em 2022, e ao mesmo tempo, estamos criando atividades em outras modalidades, como o beach tênis, e trazendo o acesso a eventos e a treinadores. O nosso cliente, quando quiser procurar algo relacionado a uma atividade esportiva, vai procurar na nossa plataforma. E através da capilaridade das lojas, há uma capacidade muito grande não só de captar localmente os treinadores, mas para que os clientes conheçam esse universo. O app é um hub de bem-estar, então podemos expandi-lo para áreas de alimentação, nutrição, e até outras.
Broadcast – Quantas lojas físicas vocês pretendem abrir neste ano?
Wagner – Vamos abrir mais lojas que no ano passado, em que abrimos 35. Achávamos que a pandemia reduziria a abertura, mas com o aumento do mercado endereçável, percebemos um consumo mais distribuído no País, e estamos abrindo um número importante de lojas de rua, que são hubs para entrega. Se você compra em Salvador, por exemplo, recebe os produtos até 24 horas. Vamos ter o maior número de aberturas da história da empresa.
Broadcast – Qual é o investimento na nova plataforma digital?
Wagner – Quando levantamos capital, alocamos nela R$ 30 milhões. Estamos entrando no ano dois, e obviamente a companhia gera caixa para investir mais se for necessário.
Broadcast – Vocês já estão planejando eventos presenciais?
Wagner – A nossa ideia é voltar com mais de 80 eventos de corrida em 2022, e adicionar a isso torneios de beach tênis e outras modalidades. Achamos melhor fazer em 2022 por causa da vacinação, para que as pessoas se sintam seguras.
Broadcast – Existe uma preocupação do mercado com o consumo, diante da alta da inflação. Esse crescimento de receita vai se sustentar?
Wagner – Vemos que vai se manter. Entendo o pensamento macroeconômico, mas o que enxergamos é que usar roupas confortáveis, praticar esporte e a preocupação com saúde se tornaram centrais na vida das pessoas, e achamos que essa mudança de comportamento veio para ficar. As pessoas vão continuar se preocupando em ter uma vida saudável. Estamos bastante otimistas, no que é possível.
Broadcast – A Track&Field teve mudanças no alto escalão, e isso repercutiu no mercado. Por que as mudanças aconteceram?
Wagner – Essas mudanças foram absolutamente naturais. Tivemos um momento importante de estruturação de governança ao longo de 2018, 2019 e 2020, com a abertura de capital. Agora, vamos para um novo momento, com foco em crescimento, digitalização, e ele pede novos conhecimentos.
Broadcast – Houve o rumor, desmentido pela Track&Field, de que a empresa poderia ser vendida a uma rival. Existe um plano de vender a Track&Field?
Wagner – Não existe nenhum plano em curso de fusão e aquisição na Track&Field, nem formal, nem informal. Os rumores aconteceram pelo momento de mercado: temos acesso a capital muito fácil, e algumas empresas são alvo de compra. Vimos operações acontecendo, mas nada relacionado a nós.
Broadcast – A Track&Field não é um alvo potencial?
Wagner – Do nosso lado, a Track&Field não é um alvo de aquisição. As pessoas podem mirar nela, mas não temos nenhuma intenção nesse momento de fazer um movimento neste sentido.
Broadcast – Vocês foram procurados?
Wagner – Não fomos procurados.
Contato: matheus.piovesana@estadao.com